25 de mai. de 2007

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir



Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir viveram um relacionamento pouco convencional que durou 50 anos. Eles se conheceram em 1929, ele faleceu em 1980 e ela em 1986. É considerado um dos casais mais célebres da História.

Segundo Simone de Beauvoir "a não ser quando está dormindo, ele pensa o tempo todo". Em seu cinismo e falta de modéstia chegava a afirmar de si: "Eu era mil Sócrates". Seu intelecto o torna atraente para mocinhas iludidas, o lhe permite superar a feiúra notória e prosseguir como um bonvivent, insaciável em sua fome de conquistas sexuais e em sua sede de cerveja, só superadas por sua gana por livros e conhecimento.

"Ele lia tudo, exceto o que era necessário para o curso que fazia", o que lhe atrasou em um ano a graduação, embora esse fato não ofuscasse seu brilho.
Nesta fase Sartre renunciou a hábitos burgueses como o de tomar banho e passou a fumar cachimbo, era visto nos cafés do Quartier Latin em animadas rodas de discussão filosófica, da qual não ousaria se aproximar quem não possuísse algo realmente inteligente a dizer.

É impossível falar de um e não mencionar o outro. A paixão pela filosofia e pela literatura os uniu. Eles desafiaram a moral do seu tempo, vivendo muitos amores, assumindo compromissos públicos na contramão da mentalidade dominante em sua época. Foram reverenciados, mas também criticados e odiados. E escreveram livros que se transformaram em obras-primas. Mas, apesar de brilhantes, Sartre e Beauvoir eram “estranhamente inseguros” e sempre se sentiam agradecidos às pessoas que os amavam.

A despeito da feiúra notória, Sartre era um grande sedutor. E não foram poucas as mulheres que ele amou e abandonou, embora algumas ele continuasse sustentando financeiramente, numa atitude tipicamente machista. Um machismo, porém, que ele jamais manifestou com Simone de Beauvoir.
A notável cumplicidade do casal permitia que dividissem não somente interesses e preocupações, mas também amantes. E essa liberdade era exercida mediante um pacto incomum: eles contavam tudo um para o outro.

Bonita, ícone do feminismo, Beauvoir era igualmente uma sedutora e teve muitos amantes homens, mas também se envolveu com mulheres, fato que ela sempre negou e que só se tornou público após a sua morte, com a divulgação de suas cartas.

Foi na década de 70 que os problemas de saúde Sartre apareceram. Era o preço que ele pagou por sua opção de "vida química". Assistido de perto por Beauvoir e por um séquito de jovenzinhas existencialistas, Sartre ficava cada vez mais debilitado. Faleceu em 15 de abril de 1980, aos 74 anos.
Seu enterro foi um acontecimento que atraiu quase 25 mil pessoas. O cortejo percorreu o Quartier Latin e a Rive Gauche, lugares marcantes de sua vida, onde produziu, viveu e de onde concebeu o pensamento que seria de toda uma geração. Movimentos radicais em todo o mundo inspiraram-se em seus escritos, embora suas leituras sobre os fatos continuassem mais como idéia do que como realidade. "Aí estava de fato, uma existência fútil num mundo absurdo".

Quando ela morreu, em 1986, a filósofa Elisabeth Badinter declarou: “Mulheres, vocês lhe devem tudo!”. “Essa mulher que não quis ter filhos tem, hoje, milhões de filhas pelo mundo”, observou com humor a escritora Benoîte Groult.

Durante toda a vida, tal como Sartre, Beauvoir serviu-se de sua notoriedade para defender os intelectuais e os “oprimidos”, especialmente as mulheres. Nos últimos quinze anos de sua vida, encontrou nas mulheres do “movimento” um radicalismo e uma exigência de clareza à sua medida e ela se engajava nesse movimento entusiasmada, “porque elas não eram feministas para tomar o lugar dos homens, mas sim para mudar o mundo”, declarou ao jornal Le Monde em 1978.

“Mantenho absolutamente a frase: não você se nasce mulher, torna-se. Tudo o que eu li, vi, e aprendi nestes últimos 30 anos confirmaram essa idéia. A feminilidade é fabricada, como aliás também se fabricam a masculinidade e a virilidade”.

Simone de Beauvoir é venerada pelas feministas, que a lêem e estudam, principalmente fora da França. A Simone de Beauvoir Society, com sede na Califórnia, realizou seu 14º colóquio em Roma, na Itália, em setembro de 2006. A jornalista Bénédicte Manier constatou que, na Índia, “em todas as discussões sobre as mulheres, ao cabo de dez minutos , as indianas citam Simone de Beauvoir”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Li, de Simone, "O segundo sexo". E devo confessar que minhas posturas quanto à sexualidade e ao feminismo destrincharam. Ficava admirada, sabendo que ela e Sartre viveram casados por tanto tempo, morando em apartamentos diferentes, porém na mesma rua.
Gostaria ter tido um casamento assim.
Bjo.

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