9 de mai. de 2012

Ano Comum

Ó mãe, regressa a mim. 
Embala-me no tempo em que os teus lábios rebentavam de ternura. 
Ó mãe, ó minha mãe, ó rio de água pura, correndo pelas veias. 
Pelo vento. 

Ó mãe, que és mãe de Deus, que és mãe de mim e mãe de Antero e de Camões, e mãe de quem lhe faltam as palavras como se faltasse o ar. 

E são assim uma espécie de filhos de ninguém. 
Abre o teu ventre, mãe. Acorda. 
Vem parir-me. 
E vem sofrer a minha dor uma vez mais. 
Morrer de amor por mim. 
Vem impedir-me o medo. Ensinar-me a amar a luz dos animais. 

Ó mãe, ó minha mãe. 

Ó pátria. Ó minha pena. 
Que me pariste, assim, temperamental. 
Mãe de Ulisses, de Guevara e mãe de Helena. 
E mãe da minha dor universal. 
Joaquim Pessoa

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